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Estudo científico demonstra eficácia das águas termais sulfúreas da região Centro no tratamento da rinite crónica


Os resultados preliminares de um estudo científico que está a decorrer em termas da região Centro, nomeadamente em São Pedro do Sul e Unhais da Serra, demonstram que a inalação de águas minerais sulfúreas é eficaz para aliviar os sintomas e tratar quem sofre de rinite e rinossinusite crónica. A rinite e rinossinusite crónica são doenças que têm como base a inflamação da mucosa respiratória do nariz. Desde há muito que a inalação de aerossóis de água mineral natural sulfúrea é uma terapêutica recomendada para melhorar a resistência e o fluxo nasal, conhecendo-se o seu papel anti-inflamatório e tratando assim diversas patologias das vias respiratórias. No entanto, a base científica de tal ação terapêutica é principalmente empírica, baseada no conhecimento adquirido ao longo do tempo e não em evidências científicas. Embora existam estudos científicos não controlados, faltam estudos científicos com desenho robusto (ensaios clínicos controlados com placebo) que avaliem a eficácia das águas minerais sulfúreas na mucosa respiratória – uma lacuna a que esta investigação procura dar resposta. O estudo, conduzido por uma equipa de investigadores da Universidade da Beira Interior (UBI) e coordenado pelo Professor Luís Taborda Barata, foi dividido em duas partes: uma fase de investigação in vitro e um ensaio clínico. A fase de investigação in vitro teve como objetivo verificar a eficácia das águas minerais naturais sulfúreas na mucosa respiratória nasal, em três vertentes: as suas capacidades histoprotectoras (de proteção e regeneração dos tecidos), as suas capacidades imunomoduladoras (de alterar a resposta imunológica) e as suas capacidades protetoras contra a toxicidade de agentes ambientais. Na primeira vertente, a análise in vitro, usando um aparelho de exposição experimental, verificou que a nebulização com água mineral natural sulfúrea melhorou de forma notória a resistência de fragmentos de mucosa nasal, com efeitos visíveis após nebulizações de dois minutos, o que não se verificou quando as nebulizações eram efectuadas com soro fisiológico. Ao mesmo tempo, as nebulizações com água sulfúrea associaram-se a uma diminuição dos níveis de quimiocinas, moléculas que contribuem para inflamações. Desta forma, segundo a equipa de investigadores, parece ser evidente o efeito protetor das águas minerais naturais sulfúreas em relação à inflamação num modelo experimental de rinite crónica alérgica, embora estudos complementares sejam necessários. Na segunda vertente, concluiu-se que, sob ação da água mineral natural sulfúrea, houve uma redução significativa da proliferação de culturas de linfócitos T, células que são as principais intervenientes na coordenação das respostas inflamatórias. Na terceira vertente, a análise in vitro visou verificar se a água mineral natural sulfúrea teria alguma eficácia perante a exposição a factores tóxicos ambientais como o mercúrio, em concentrações relevantes para a saúde humana. As conclusões foram particularmente animadoras: a água mineral natural sulfúrea registou um efeito protetor generalizado ao mercúrio, muito evidente em comparação com o efeito do soro fisiológico. Um efeito de tal forma importante que os investigadores sugerem agora testar o efeito protetor destas águas em relação a outros químicos voláteis e contaminantes aos quais estamos regularmente expostos. Ensaio clínico vai envolver 200 pacientes
Após os resultados promissores da fase de estudo in vitro, a equipa de investigadores da UBI vai agora realizar um ensaio clínico, que visa verificar os efeitos das águas minerais sulfúreas em doentes com rinite e rinossinusite crónica. Um total de 200 pacientes serão envolvidos no ensaio, que já foi aprovado pelo Infarmed e está em fase de registo internacional no clinicaltrials.gov. Para o Professor Luís Taborda Barata, coordenador da investigação, este estudo irá permitir avaliar de forma cientificamente rigorosa as propriedades terapêuticas das águas minerais sulfúreas no tratamento de rinite / rinossinusite crónica: “Da forma como está desenhado, como um ensaio clínico duplamente cego e controlado com placebo, efectuado em duas unidades termais com águas sulfúreas, envolvendo 200 doentes com rinite ou rinossinusite crónica, este será um estudo pioneiro a nível mundial. Foi planeado com o máximo de rigor e cumpre todos os preceitos científicos e éticos, tendo sido aprovado pela Comissão de Ética do Infarmed. As equipas clínicas e técnicas das unidades termais envolvidas estão entusiasmadas e está previsto o ensaio clínico ter início em abril do corrente ano. Caso se comprove a eficácia clínica no âmbito da patologia nasal, espera-se, numa fase posterior, submeter novos projetos, no âmbito de outras doenças respiratórias, como a asma brônquica e a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC)Adriano Barreto Ramos, coordenador da rede Termas Centro, salienta o impacto que esta investigação pode ter para as estâncias termais da região. “Desde tempos muito antigos que se sabe que os tratamentos termais são eficazes para combater várias doenças do foro respiratório e não só. Mas não se sabia exatamente o como nem o porquê. Ao responderem a estas questões, de forma estritamente científica, esta e outras investigações assumem uma importância enorme para o reconhecimento das estâncias termais como parceiros privilegiados para quem procura tratamentos eficientes e naturais. Aguardamos com muita expetativa, pelas potencialidades que tem, os resultados do estudo, no que se refere às propriedades imunomodeladoras”, destaca. O estudo conta com o apoio da rede Termas Centro e é da autoria dos investigadores Luís Taborda Barata (Coordenador Geral), Ramiro Pastorinho (Biólogo), Fernando Arosa (Bioquímico), Elsa Cardoso (Bioquímica), Olga Lourenço (Farmacêutica), Mafalda Fonseca (Bioquímica), Luiza Granadeiro (Farmacêutica), Joana Viegas (Bioquímica) e Ana Filipa Esteves (Bioquímica). Conta ainda com equipas de clínicos e técnicos em cada unidade termal, liderados pelo Dr. António Jorge Santos Silva (Termas de Unhais da Serra) e pelo Dr António Sousa Gomes (Termas de São Pedro do Sul).

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